Em avaliação (neuro)psicológica é, cada vez mais, frequente o recurso a testes informatizados. Dentro em breve, estarão disponíveis (validados) em Portugal cinco testes computorizados da bateria cognitiva dos National Institutes of Health (NIH Toolbox-Cognitiva). Em que consiste, para que serve e qual a utilidade e inovação introduzidas por esta nova bateria que será alvo de estudos de validação no NAAP?
O que avalia a NIH Toolbox-Cognitiva?
A NIH Toolbox-Cognitiva (NIHTB-C), criada pelos National Institutes of Health (EUA), em 2012, permite avaliar as funções cognitivas ao longo do ciclo de vida, interessando-nos aqui em particular as alterações que ocorrem nas pessoas mais velhas.
A NIHTB-C inclui 5 testes de aptidões fluidas para avaliar a memória de trabalho, velocidade de processamento, memória episódica, atenção e funções executivas (Gershon, Wagster, Hendrie, Fox, Cook, & Nowinski, 2013; Parsons, 2016), em aproximadamente 30 minutos. A versão para iPad surgiu em 2015 e a sua administração não requer ligação à internet. Relativamente à faixa etária dos 60-85 anos, sabe-se que a experiência de utilização de tablets em situação de avaliação (neuro)psicológica cognitiva é considerada agradável pela maioria das pessoas (Zygouris & Tsolaki, 2015).
Relevância
Em 2014, 20.3% da população residente em Portugal tinha mais de 65 anos (INE, 2015). Esta tendência de envelhecimento convoca as sociedades para o maior enfoque nas políticas sociais e de saúde, em particular no que respeita à demência. Esta última é um desafio global de saúde, e uma das principais causas de dependência e incapacidade (Prince, Albanese, Guerchet, & Prina, 2014).
Atualmente, na área dos cuidados de saúde, os orçamentos obrigam à redução de custos e ao aumento da eficiência. Assim, surge como necessidade premente a existência de instrumentos de avaliação que permitam:
- uma administração breve (minimizando tempo e custos da avaliação, assim como a eventual frustração do avaliado);
- obter um desempenho sem efeitos de teto ou chão (com base no controlo do índice de dificuldade dos itens, minorando a eventual motivação reduzida dos sujeitos);
- implementar estudos de coorte com custos mais reduzidos;
- facilitar a recolha de dados e a partilha dos mesmos entre diferentes investigadores de diversos países;
- avaliar o funcionamento do sujeito ao longo de um continuum que abranja a totalidade do constructo medido.
A NIHTB-C preenche todos estes critérios.
Em relação a outros testes computorizados, a NIHTB-C foi desenvolvida com base numa abordagem psicométrica que oferece uma medição mais adequada dos constructos psicológicos (Parsons, 2016): a Teoria de Resposta ao Item. Os testes que a integram são de aplicação breve, os resultados precisos e válidos, e os itens estão calibrados de acordo com a amplitude do constructo medido (Gershon et al., 2013).
Esta bateria inovadora acomoda ainda concepções oriundas dos avanços mais recentes da psicologia cognitiva, da psicometria e da tecnologia da informação (Gershon et al., 2013; Parsons, 2016) viabilizando, dentro de pouco tempo também em Portugal, uma nova abordagem das funções neurocognitivas, que vai ao encontro de melhores práticas de avaliação (e.g. Weintraub et al., 2018; Holdnack et al., 2017; Flores et al 2017).
Conclusão
Para a população idosa portuguesa, a NIHTB-C constituirá, um instrumento de medida cognitiva mais fiável e que terá em conta as dificuldades reais dos sujeitos. Nesta base, a NIHTB-C contribuirá para a formulação de diagnósticos mais precisos e para a melhoria das intervenções cognitivas.
Autores do artigo:
Catarina Marques-Costa, Mª Salomé Pinho, Mário R. Simões & Gerardo Prieto
Contacto:
marquescosta.cm@gmail.com
Bibliografia
Flores, I., Casaletto, K. B., Marquine, M. J., Umlauf, A., Moore, D. J., Mungas, D., … & Heaton, R. K. (2017). Performance of Hispanics and Non-Hispanic Whites on the NIH Toolbox Cognition Battery: the roles of ethnicity and language backgrounds. The Clinical Neuropsychologist, 31(4), 783-797.
Gershon, R. C., Wagster, M. V., Hendrie, H. C., Fox, N. A., Cook, K. F., & Nowinski, C. J. (2013). NIH toolbox for assessment of neurological and behavioral function. Neurology, 80(11 Supplement 3), S2-S6. doi: 10.1212/WNL.0b013e3182872e5f
Holdnack, J. A., Tulsky, D. S., Brooks, B. L., Slotkin, J., Gershon, R., Heinemann, A. W., & Iverson, G. L. (2017). Interpreting patterns of low scores on the NIH Toolbox Cognition Battery. Archives of Clinical Neuropsychology, 32(5), 574-584.
Instituto Nacional de Estatística, I.P. (2015). Estatísticas Demográficas 2014. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística, I.P.
Parsons, T. (2016). Clinical Neuropsychology and Technology: What’s New and How We Can Use It. Zug, Switzerland: Springer International Publishing AG.
Prince, M., Albanese, E. Guerchet, M., & Prina, M. (2014). World Alzheimer Report 2014: The benefits of early diagnosis and intervention. Alzheimer’s Disease International.
Weintraub, S., Carrillo, M. C., Farias, S. T., Goldberg, T. E., Hendrix, J. A., Jaeger, J., … & Sikkes, S. A. (2018, Advance online). Measuring cognition and function in the preclinical stage of Alzheimer’s disease. Alzheimer’s & Dementia: Translational Research & Clinical Interventions. https://doi.org/10.1016/j.trci.2018.01.003
Zygouris, S., & Tsolaki, M. (2015). Computerized Cognitive Testing for Older Adults: A review. American Journal of Alzheimer’s Disease and Other Dementias, 30(1), 13-28. doi: 10.1177/1533317514522852